A prática pedagógica do Jogo nas aulas de Educação Física na EJA.






Desde a Antiguidade os seres humanos jogavam e brincavam entre si. Alguns poucos registraram em forma de desenhos esses jogos nas paredes das cavernas. Estas e outras evidências mostram que o jogo acompanhou na apenas a evolução histórica, mas esteve presente em todas as civilizações. Assim, se encontram jogos do Egito, da Grécia, da Índia, da China, dos Incas, de Angola, da Espanha e, é claro, do Brasil. Por exemplo, a amarelinha, empinar papagaios ou jogar pedrinhas têm registros na Grécia e no Oriente, comprovando a universalidade dos jogos infantis (KISHIMOTO apud DARIDO e RANGEL, 2005).

Sendo o jogo um tema da Cultura Corporal logo é possível entender a importância deste como patrimônio histórico e social, sendo praticada e passada de geração em geração de diferentes formas e possibilidades.
Sendo assim Brasil (2002, p.209-210) os definem como:

Os jogos podem ter maior flexibilidade nas regulamentações, que são adaptadas em função das condições de espaço e material disponíveis e do número de participantes, entre outros. São exercidos em caráter competitivo, cooperativo ou recreativo em situações festivas, comemorativas, de confraternização ou, ainda, no cotidiano, como simples passatempo e diversão. Assim, incluem-se entre jogos as brincadeiras regionais, os jogos de salão, de mesa, de tabuleiro, de rua e as brincadeiras infantis de modo geral.

A utilização dos jogos nas aulas de Educação Física ganha importância pela sua flexibilidade na forma de trabalhar, possibilitando que todos participem dentro de suas limitações e habilidades e proporcionando um momento de aprendizagem satisfatório para o grupo, e oportunizando um momento de troca, devido a grande diversidade existente, principalmente nas turmas da EJA.
A facilidade de trabalhar o jogo como conteúdo nas aulas de Educação Física é evidente, na medida em que todos estipulam como será a realização do mesmo.
Concordando com esta afirmação Darido e Rangel (2005, p. 158) apresentam diferentes razões para facilidade da aplicação dos jogos:

  • não são desconhecidos das crianças, uma vez que a maioria já participou de diferentes jogos e brincadeiras;
  • não exigem espaço ou material sofisticado (embora possam existir jogos com tais exigências);
  • podem variar em complexidade de regras, ou seja, desde pequeno pode-se jogar com poucas regras ou chegar a jogos com regras de altíssimo nível de complexidade;
  • podem ser praticados em qualquer faixa etária;
  • são divertidos e prazerosos para os seus participantes ( a menos que sejam levados a extremos de competição);
  • aprende-se o jogo pelo método global, diferentemente do esporte, que geralmente é aprendido/ ensinado por partes. Ao contrário, em um grande jogo, aprendemos jogando, não se explica e se “treina” as partes para depois jogar; a graça de se aprender o jogo está em justamente jogá-lo. Não se aprende a arremessar para depois se aprender a jogar queimado, o arremesso é aprendido durante o jogo. Se o arremesso deve ser mais forte, mais fraco, em determinada direção, para cima ou baixo, é o contexto do jogo que vai determinar. Os jogos coletivos foram criados desta maneira, as pessoas aprendiam jogando, somente mais tarde, com a técnica e a ciência é que se passou a ensinar a decomposição das partes.

Ou seja, todos podem participar do jogo dentro das suas possibilidades, independente da idade, desde que o nível de exigência de cada um seja respeitado. Ter cuidado com a questão da competitividade durante o jogo também é relevante para que aula seja significativa para o aluno. Trabalhar os jogos utilizando materiais alternativos possibilita uma visão mais compreensiva sobre as questões de reciclagem e preservação do meio ambiente, além de incentivar a criatividade dos alunos durante as confecções dos elementos a serem utilizados. Por isso se torna relevante à aplicação dos jogos durante as aulas de Educação Física na EJA.


Ao trabalhar o jogo numa dimensão conceitual Darido e Rangel (2005, p.160-163) propõem os seguintes objetivos:

Conhecer o repertório de jogos e brincadeiras dos familiares de diferentes gerações e compreender a dinâmica da produção dos jogos na cultura. Distinguir as características do esporte e do jogo, especificamente conhecer as diferentes formas de organização do espaço, dos recursos materiais, das regras e das formas de organização conforme as necessidades do grupo. Conhecer as variações das brincadeiras e jogos. Entender o jogo na perspectiva do lazer e qualidade de vida. Compreender as relações entre o jogo competitivo e o cooperativo.

A possibilidade de compreender o jogo sobre um novo olhar através de vários ângulos aponta como esta temática da cultura corporal é relevante durante as aulas de Educação Física na escola. Conhecer os jogos em várias versões compará-los ao esporte e apontar suas características, entender como o jogo pode ser flexível atendendo a necessidade de cada participante, conscientizar a prática do jogo nas horas de lazer como uma possibilidade de qualidade de vida e as diferenças dos jogos competitivos e cooperativos são algumas das formas de legitimar a temática do jogo como importante fonte de aprendizagem.

Numa dimensão procedimental Darido e Rangel (2005, p.160) apresentam possibilidades de ensino do jogo que podem ser reproduzidas, transformadas e/ou modificadas todas as formas de jogos conhecidas, bem como ser realizadas pesquisas na comunidade sobre as diferentes formas de se jogar um mesmo jogo.

Vivenciar variações de determinados jogos, ajuda na compreensão da diversidade de idéias que gira em torno de uma sociedade. A queimada, por exemplo, que é jogada de uma forma no Rio de Janeiro, já possui uma forma diferente de procedimento no Amazonas. Fazer uma aproximação destas variações possibilita novas formas de prática de uma determinada atividade, conhecendo novos movimentos o indivíduo conquista um conhecimento maior sobre o seu corpo, construindo uma autonomia na execução dos movimentos durante o jogo.

Numa dimensão atitudinal Darido e Rangel (2005, p. 160) propõem o jogo nas questões:

Ligada aos valores, normas e atitudes, podem ser vivenciadas e discutidas, entre outras: a cooperação, a solidariedade, a inclusão, a relação de gênero, a ética, a pluralidade cultural e a resolução de conflitos. Esta última dimensão, apesar de presente nas aulas, acontece quase sempre sem a intervenção do professor. Levantar a possibilidade de utilizá-la como objetivo da aula pode ser considerado um ponto importante do trabalho docente.

Esta dimensão se torna relevante principalmente nas aulas Ed. Física na EJA, pois a grande diversidade de alunos, muitas vezes de regiões bem diferentes, além das questões culturais e religiosas, faz com que o respeito mútuo, a cooperação, a inclusão, a pluralidade cultural e a resolução de conflito aconteça durante a prática do jogo, fornecendo caminho para aceitação de que as diferenças existem e que estão na realidade de cada um. 

O jogo pode ser considerado um instrumento valioso durante as aulas de Educação Física, desde que o educador, tenha a real consciência desta temática no cotidiano do seu aluno. Vale lembrar que alguns estudos de teoria do desenvolvimento humano utilizaram o jogo como base para reações a determinados estímulos, que até hoje serve de referência para muitos estudiosos das áreas da Educação e Psicologia.

Referências Bibliográficas:


BARBOSA, L.C.A. Educação física escolar e as representações sociais. Rio de Janeiro: Shape, 2001.
BETTI, M. Educação Física e sociedade. São Paulo: Movimento, 1991.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei n.° 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação educacional. Brasília: MEC, p.31-57, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC, p.114, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara da Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para educação de jovens e adultos. Câmara da Educação Básica. Brasília: MEC, p.68, 2000.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Proposta Curricular para educação de jovens e adultos: segundo segmento do ensino fundamental: 5ª a 8ª série: Educação Física/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC, p.50, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Trabalhando com a educação de jovens e adultos: o processo de aprendizagem dos alunos e professores. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília: MEC, p.50, 2006.
DARIDO, S.C. Educação Física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
DEMO, P. Desafios modernos da Educação. Petrópolis: Vozes, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LIBÂNEO, J.C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1985.
MILLER, L.R.S  As lutas como ferramenta educacional no Ensino Fundamental. 2006. 38f. Monografia (Graduação do Curso de Educação Física em Licenciatura Plena) – Faculdade de Ciências Biológicas/ Educação Física, UNIG – Rio de Janeiro, 2006.
MIZUKAMI, M.G.N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.
NISKIER, A. LDB: a nova lei da educação. Rio de Janeiro: Consultor, 1996.
RANGEL, I.C; DARIDO, S.C . Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

ZACHARIAS, V.L.C. Avaliação Formativa. Disponível em < http:// www.centrorefeducacional.com.br/avaform.htm> acesso em 23 de janeiro de 2008.

Comentários

Postagens mais visitadas