A prática pedagógica das lutas nas aulas de Educação Física da EJA.





A primeira menção escrita das lutas que se tem registro, data da época dos Sumérios, aproximadamente 4.000 a.C. onde no “Poema de Gilgamesh”, um rei descreve uma luta em detalhes. Mais tarde no antigo Egito, nas tumbas da 5ª Dinastia 2.470 a.C. aparecem muitos desenhos de luta onde os modelos às vezes eram crianças, o que garante o componente esportivo e didático da atividade. (LEITÃO apud MILLER, 2006).
As lutas pela sua trajetória histórica são de certa forma associada com a questão da violência, por causas das guerras que acontecerem ao longo do desenvolvimento das civilizações. Talvez seja um dos motivos de grande resistência na sua aplicabilidade dentro do cenário escolar, uma vez que ao praticar esta modalidade estaria sendo estimulado a “agressividade” do praticante, neste caso, o aluno.

Segundo Darido e Rangel (2005, p. 244) em relação às lutas na escola:

Dentre os conteúdos que podem ser apresentados na Educação Física escolar, as lutas são um dos que possivelmente encontram mais resistência, levantados geralmente os argumentos de que há falta de espaço, falta de material, falta de roupa adequada e, sobretudo, pela associação às questões de violência.

Encontrar meios de apresentar as lutas como temática da cultura corporal é uma tarefa desafiadora para o professor de Educação Física na busca de um novo significado para a sua aplicabilidade dentro da escola. Esta tarefa se torna mais delicada na EJA, pois alguns alunos já chegam com idéia formada do propósito das lutas, e tende a resistir a uma nova forma de observar determinado assunto.
Segundo Brasil (2002, p.210) as lutas são:

Disputas em que o oponente deve ser subjugado com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de defesa e ataque. Caracterizam-se por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência desnecessária e deslealdade. Podem ser citados como exemplo de lutas, desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas mais complexas como capoeira, judô e caratê.

Observar-se que o contato corporal está entre as principais características desta temática, onde a utilização de determinado movimento define uma situação de confronto, tendo regulamentação adequada para não haver a deslealdade durante a disputa.
Existem vários tipos de lutas pelo mundo nos dias atuais. É inegável que a maioria das lutas são de origem orientais, as algumas delas surgiram no ocidente. No Ocidente as lutas estão vinculadas unicamente ao sistema de luta e defesa pessoal ao contrário do Oriente que possuem um sistema filosófico fundamentado em crença e religiões que preparam o praticante físico e espiritualmente (WIKIPÉDIA ENCICLOPÉDIA apud MILLER, 2006).


Segundo Wikipédia apud Miller (2006, p.25) são tipos de lutas:

  • Ocidentais: ArtDO, Boxe, Capoeira, Esgrima, Full contact, Kombato, Krav Maga, Luta Greco-Romana, Savate, Wrestling, Vale-Tudo.

  • Orientais: Karatê, Judô, Taekwendo, Budô, Kung Fu, Muay Thai, Jiu-Jitsu, Sumo, Kempo, Tai Chi Chuan, Aikido, Ninjitsu.

As lutas supracitadas que têm maior divulgação e grande número de praticantes no Brasil são a Capoeira, o Judô e o Karatê. Estas modalidades estão incluídas na grade curricular das escolas e inclusive nas Faculdades de Educação Física como disciplinas acadêmicas. Por isso, torna-se relevante a sua aplicabilidade nas aulas de Educação Física da EJA.

Logo, Darido e Rangel (2005, p.249) apontam que:

As lutas estiveram sempre presentes na história da humanidade e forma identificadas por atitudes ligadas às técnicas de ataque e defesa, com objetivo de autoproteção ou militar. No seu desenvolvimento, valores foram atrelados a seu contexto, oriundos ora de religiões (budismo, taoísmo, xintoísmo etc.), ora do movimento esportivo e olímpico.

Entretanto é fato notar, que esta temática, tem sido pouco explorada, durante as aulas de Educação Física escolar, tanto na questão da aplicabilidade quanto no que diz respeito a critério de seleção e aprendizagem específica. Apresentar a luta sobre um olhar conceitual, procedimental e atitudinal, se faz necessário para ressignificar esta modalidade dentro do âmbito escolar.

Numa dimensão conceitual Darido e Rangel (2006, p. 250) dizem que:

Podem ser estudados as lutas de origem japonesa, entre elas, o Judô, o Karatê, o Aikidô e o Kendô, as chinesas, como o Tai Chi Chuan, o Wu-Shu (Kung Fu), e os seus desdobramentos pelo Oriente, o Tae Kwon Do, o Hapkido, e o Quaw Ki Do, as ocidentais, como o Boxe, o Kickboxing, o Savate, a Luta Olímpica e as brasileiras, Capoeira e Jiu-jitsu brasileiro.

Dentro deste contexto podem ainda ser incluídos os seguintes aspectos como as transformações das lutas, bem como seu contexto histórico-cultural e sua filosofia, as transformações necessárias das lutas ao contexto esportivo e também ao contexto escolar, reconhecer e discutir a influência da mídia sobre o imaginário social.
Numa dimensão procedimental Darido e Rangel (2006, p.250) dizem que podem ser praticados diversos tipos de equilíbrios e desequilíbrios, alguns golpes tidos como principais nas lutas mais conhecidas, quedas e rolamentos.
Portanto, propor variações de habilidades motoras manipulativas como empurrar e puxar, habilidades motoras de estabilidade como equilíbrio, serão importantes para o conhecimento do aluno. Uma outra possibilidade de trabalho é alternar o adversário, colocando o mais forte com o mais fraco, homem e mulher, o mais velho com o mais novo, tendo em vista que a diferença de idade é comum na EJA, com o objetivo de mostrar as diferenças que existem em cada indivíduo e que é preciso respeitar esta diversidade.

Numa dimensão atitudinal Darido e Rangel (2006, p. 250) esperam que:

Haja uma intervenção ativa dos professores no sentido de ressignificar o papel das lutas no contexto educacional, valorizando atitudes de não-violência, respeito aos companheiros, resolução dos problemas através do diálogo, a busca da justiça e da solidariedade.

 A compreensão do ato de lutar, porque lutar, com quem lutar, contra quem lutar ou contra o que lutar devem ser questionados durante as aulas de Educação Física escolar, assim como a influência da mídia sobre a apreciação das lutas. Refletir sobre estas questões é mister para construção do indivíduo crítico e ativo no seu contexto social.

Referências Bibliográficas:

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BRASIL. Ministério da Educação. Secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Trabalhando com a educação de jovens e adultos: o processo de aprendizagem dos alunos e professores. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília: MEC, p.50, 2006.
DARIDO, S.C. Educação Física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
DEMO, P. Desafios modernos da Educação. Petrópolis: Vozes, 1999.
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LIBÂNEO, J.C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1985.
MILLER, L.R.S  As lutas como ferramenta educacional no Ensino Fundamental. 2006. 38f. Monografia (Graduação do Curso de Educação Física em Licenciatura Plena) – Faculdade de Ciências Biológicas/ Educação Física, UNIG – Rio de Janeiro, 2006.
MIZUKAMI, M.G.N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.
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ZACHARIAS, V.L.C. Avaliação Formativa. Disponível em < http:// www.centrorefeducacional.com.br/avaform.htm> acesso em 23 de janeiro de 2008.


SUGESTÃO DE ATIVIDADES, ACESSE: https://www.youtube.com/watch?v=W1_slvGDvkE&t=2s 



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