A prática pedagógica das Danças nas aulas de Educação física da EJA.





Não é raro ouvirmos fala que o Brasil é o país das danças ou um país dançante. Esta “nossa” fama é bem pertinente, se levarmos em consideração a diversidade de manifestações rítmicas e expressivas existente de norte a sul. Sem contar a imensa repercussão internacional de algumas delas, como o Carnaval (DARIDO E RANGEL, 2005).
A dança é uma representação simbólica que existe desde os primórdios da humanidade e assim, como a escrita, surgiu como uma possibilidade de comunicação e expressão entre os povos, manifestadas por diversos tipos de sentimentos, como alegria, quando alguém era recebido por um povo, tristeza, quando alguém falecia, e também como forma de reverenciar algumas divindades nas diferentes entidades religiosas.
Corroborando com o comentário acima Darido e Rangel (2005, p. 200) dizem que:

Em todas as épocas e espaços geográficos, a dança desempenhou para os povos uma representação de suas manifestações, de seus “estados de espírito”, de emoções, de expressão e comunicação de suas características culturais. Por meio de gestos e movimentos, a dança traduz as mais íntimas das emoções, acompanhada ou não da música e do canto ou de ritmos peculiares.

Ainda Darido e Rangel Apud Nanni (2005, p. 200) apontam que o ser humano utilizou a dança como linguagem corporal, simbolizando alegrias, tristezas, vida e morte, para celebrar a amor, a guerra, a paz, ou seja, ela representou diversos aspectos da vida humana.
Sendo a dança, uma atividade rítmica e expressiva, logo é considerada uma forma de linguagem corporal, revestida de significados e intencionalidades. Elas podem ser representadas em diversos estilos e em ritmos e passos variados. Podem ser citadas as danças folclóricas, étnicas, danças de salão e danças teatrais. Assim como todas as temáticas da Cultura Corporal do Movimento, a dança também foi alvo de influências sociais tendo a prática, por exemplo, do balé clássico, como status de nobreza das classes mais ricas durante o final do século XIX e início do século XX.
Outros estilos de danças como o rap e o funk surgiram com o intento de apresentar as mazelas sociais de um determinado grupo e como forma de protesto para uma sociedade mais justa e humana.
A dança pode adquirir diferentes objetivos conforme o contexto que situa, diante disto Darido e Rangel (2005, p.201) propõe os seguintes objetivos durante o seu desenvolvimento nas aulas de Educação Física Escolar:

  • possibilitar a exploração da criatividade através da descoberta e da busca de novas formas de movimentação corporal;
  • viabilizar a educação rítmica, pela diversificação na dinâmica das ações motoras e por utilizar a música, a percussão, o canto e outros recursos como instrumentos para aumentar a motivação;
  • canalizar para a expressividade, por refletir sentimentos, pensamentos e emoções;
  • ampliar o vocabulário o senso perceptivo;
  • ampliar os horizontes e formar pensamentos críticos, conduzindo a participação, compreensão,desfrute e reconstrução das atuais conjunturas das artes e também das condições de cidadania;
  • levar à apreciação e valorização artísticas, dando ênfase às contribuições culturais e históricas contidos nos trabalhos de dança.


A dança é um elemento muito rico para as aulas de Educação Física na EJA, pois possibilita o confronto de idéias e pensamentos de determinados ritmos e estilos, tendo em vista que a população desta modalidade tem como principal característica à diversidade cultural, assim como no jogo cada região tem sua forma de jogar, na dança cada um tem sua forma de se manifestar e uma significação peculiar para determinada representação rítmica.
Além da dança, manifestações como mímicas, brinquedos cantados e cirandas, são elementos riquíssimos para uma comunicação através da expressão corporal. Nessas atividades rítmicas e expressivas encontram-se mais subsídios para enriquecer o processo de formação de códigos corporais de comunicação dos indivíduos e do grupo (BRASIL, 2002).
Em relação aos conteúdos relacionados à dança encontram-se algumas qualidades dos movimentos expressivos. São elas: a forma, o espaço e o tempo aliados à energia despendida para a realização de movimentos. Segundo Darido e Rangel (2005, p.202) dizem que conhecer as habilidades, capacidades e possibilidades corporais aliadas aos aspectos coreológicos/ qualidades do movimento é imprescindível para o aluno descobrir com seu próprio corpo como se comunicar pela dança.
Oferecer através da dança, das mímicas, dos brinquedos cantados ou das cirandas formas de conhecer o seu próprio corpo, colabora para os alunos compreenderem as qualidades dos movimentos expressivos, bem como perceber sua duração, intensidade e direção.

Numa dimensão conceitual Darido e Rangel (2005, p.205) dizem que a dança dever trabalhada na seguinte maneira a possibilitar:

  • Informar as várias manifestações da cultura, nos diferentes contextos, em diferentes épocas (danças rituais, sagradas, comemorativas, circulares etc.)
  • Cultivar a Cultura Corporal do Movimento por meio da cultura popular.
  • Discutir a questão do gênero e problematizar a idéia de que homem não dança.
  • Incentivar o hábito da leitura de jornais e revistas, nos quais é possível observar a críticas de espetáculos de danças, assim como propagandas de apresentações e suas implicações, como os valores de ingresso.
  • A questão da inclusão pode ser conduzidas nas aulas de dança sob estímulos bem orientados pelo professor, para tornar claro que não há jeito certo ou errado de dançar. Todas podem dançar, independentes de biotipo, etnia ou habilidade.
  • A discussão sobre as danças expostas pela mídia pode ser de enfoque importante para a formação do senso crítico.

Através das possibilidades apresentada o trabalho com a dança na EJA numa dimensão conceitual será relevante, pois debater a questão do sexismo que envolve esta temática, onde alguns homens rotulam que esta manifestação rítmica só pode ser praticada pelas mulheres, será relevante para esclarecimento de vários questionamentos que envolvem este assunto. Outro momento de relevância está na questão do dançar certo ou errado, pois muitas pessoas se negam a dançar justificando que não sabem. Sabe-se que não existe nenhum instrumento de avaliação se uma coreografia é correta ou incorreta. Existem em festivais de dança, graus de exigência para o cumprimento de determinado requisito, o que é previamente comunicado aos participantes, tendo este total conhecimento das exigências.

Numa dimensão procedimental, Darido e Rangel (2005, p.206) propõe a dança no seguinte modo na escola:

  • Utilizar-se de técnicas e da liberdade dos gestos espontâneos.
  • Utilizar estratégias para a percepção do ritmo individual e grupal.
  • Explorar o desenvolvimento de noção espaço/tempo/forma, em relação a si mesmo e ao outro, aliado ao estímulo musical, ou ao silêncio.
  • Aplicar os princípios básicos das qualidades do movimento ou estruturas coreológicas para a construção de desenhos coreográficos.
  • Exploração de gestos e códigos (técnicas) de outros movimentos corporais ou linhas metodológicas de estilos de dança.
  • Compreensão do processo expressivo partindo dos significados individuais para o coletivo (as mímicas, representações de cenas do cotidiano em grupo, danças individuais, pequenos desenhos coreográficos em grupo etc.).
  • Estimular a percepção dos limites corporais individuais e de parcerias, na vivência dos movimentos fluídos e alongados, criando a oportunidade de transcender as limitações.
  • Vivenciar danças folclóricas e regionais analisando seus contextos de manifestações.

Estimular a imitação de situações da natureza, provocando a imaginação dos alunos, utilizar brincadeiras que trabalha o desenvolvimento do ritmo, improvisar a utilização de materiais diversificando para que o próprio aluno desenvolva o seu ritmo, pode se utilizado até o próprio corpo como o estalar dos dedos e outras partes dos corpos, propor aos alunos a montagem de uma coreografia, ou transformar uma coreografia de um brinquedo cantado são umas das possibilidades de trabalho numa dimensão procedimental na EJA.

Na dimensão atitudinal o conteúdo de dança pode ser desenvolvida segundo Darido e Rangel (2005, p.211) da seguinte forma:

  • Desenvolver atitudes não-discriminatórias quanto à habilidade, sexo ou outras que venham a ser motivo de exclusão durante a elaboração de uma coreografia.
  • Valorizar e apreciar as danças populares como forma de lazer, integração social e parte do patrimônio cultural da comunidade. Estudar suas origens, verificar as semelhanças e diferenças em que as mesmas danças se apresentam em regiões distintas e conduzir o aluno a perceber que tais semelhanças e diferenças podem estar relacionadas ao contexto de cada região.
  • É interessante utilizar a estratégia da problematização e a utilização de filmes e documentários que possam melhor ilustrar situações conflitantes para discussão.
  • Enfatizar a dança da escola enquanto atividade não-competitiva que objetiva preparar o educando a exercer a cidadania plena, incentivando-o a dançar conforme as suas possibilidades, ou seja, haverá o respeito às habilidades e capacidades físicas próprias e dos outros; portanto, as exigências atentam para as condições físicas individuais. Neste caso, haverá o incentivo à inclusão, mas, ao abordar a dança segundo uma concepção competitiva, poderá gerar exclusão.
Além do saber e saber fazer, é relevante a questão do saber ser e conviver no trabalho da dança, o professor nas aulas de Educação Física da EJA deve está atento à questão da discriminação, principalmente por parte dos homens, a questão da religião que interfere diretamente nas expressões corporais, onde a muitos equívocos e polêmicas que envolvem este assunto, valorizar não somente os alunos que conseguem executar os movimentos com precisão, mas também aqueles que conseguiram dentro de suas limitações apresentar resultados satisfatórios enquanto a sua performance. É relevante a prática da dança dentro da escola desde que não se premie os mais hábeis e se excluam os que possuem uma certa dificuldade com a expressão corporal. Resgatar as manifestações tradicionais é uma possibilidade de se iniciar um trabalho de dança, ou uma das inúmeras possibilidades.


Referências Bibliográficas:

BARBOSA, L.C.A. Educação física escolar e as representações sociais. Rio de Janeiro: Shape, 2001.
BETTI, M. Educação Física e sociedade. São Paulo: Movimento, 1991.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei n.° 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação educacional. Brasília: MEC, p.31-57, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC, p.114, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara da Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para educação de jovens e adultos. Câmara da Educação Básica. Brasília: MEC, p.68, 2000.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Proposta Curricular para educação de jovens e adultos: segundo segmento do ensino fundamental: 5ª a 8ª série: Educação Física/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC, p.50, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Trabalhando com a educação de jovens e adultos: o processo de aprendizagem dos alunos e professores. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília: MEC, p.50, 2006.
DARIDO, S.C. Educação Física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
DEMO, P. Desafios modernos da Educação. Petrópolis: Vozes, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LIBÂNEO, J.C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1985.
MILLER, L.R.S  As lutas como ferramenta educacional no Ensino Fundamental. 2006. 38f. Monografia (Graduação do Curso de Educação Física em Licenciatura Plena) – Faculdade de Ciências Biológicas/ Educação Física, UNIG – Rio de Janeiro, 2006.
MIZUKAMI, M.G.N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.
NISKIER, A. LDB: a nova lei da educação. Rio de Janeiro: Consultor, 1996.
RANGEL, I.C; DARIDO, S.C . Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
ZACHARIAS, V.L.C. Avaliação Formativa. Disponível em < http:// www.centrorefeducacional.com.br/avaform.htm> acesso em 23 de janeiro de 2008.




Comentários

  1. Percebo que a EJA se anima nas aulas de Educação Física, quando se fala em dança.
    Anos anteriores fizemos Uma noite de Causos & Caldos com dança de forró. Foi muito animado. A participação na EJA aumentou consideravelmente.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Faça um relato de prática pedagógica dessa aula, será uma grande contribuição para área.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas