A prática pedagógica do Esporte nas aulas de Educação Física na EJA.



A questão do esporte dentro das aulas de Educação Física é bastante polêmica, pois mesmo com as propostas de uma educação onde todos tenham o direito de vivenciar diversas possibilidades, a questão da alta performance e da seleção dos mais aptos, se encontram acesas dentro do cenário escolar. Além desta situação, é fato comentar a ascensão do esporte dentro do cenário econômico mundial, se tornando uma mina de ouro das grandes empresas e agentes do esporte. Por isso se torna tão necessário trabalhar o esporte além das questões motoras.

Segundo Brasil (2002, p. 209) sobre o esporte:

As práticas que adotam as regras de caráter oficial e competitivo, organizadas por federações, regionais, nacionais e internacionais que regulamentam a atuação amadora e profissional, são consideradas como esporte. Envolvem condições de local – como campos, piscinas, pistas, ringues, ginásios, etc. – e equipamentos sofisticados. A divulgação pela mídia favorece a sua apreciação por um diverso grupo de contingentes sociais e culturais. Por exemplo, os jogos olímpicos, a copa do mundo de futebol, determinadas lutas de boxe são vistos e discutidos por um grande número de torcedores e apreciadores.

A definição acima deixa claro que o professor que se limita apenas a ensinar as técnicas e fundamentos do esporte nega ao seu aluno um conhecimento que pode ser relevante do dia a dia do aluno, fazendo com que ele possa compreender determinadas situações que envolvem este mundo.
Antes de apresentar os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, será relatado uma classificação do esporte baseado nos estudo de Tubino (2001). Este autor apresenta o esporte sobre três aspectos de sua manifestação: o esporte-educação; o esporte-participação e o esporte performance ou de rendimento, embora, na realidade nem sempre seja fácil localizar ou diferenciar essas manifestações (DARIDO E RANGEL, 2005).
O esporte nas aulas de Educação Física deve ser analisado em três perspectivas: o esporte regulamentado, o esporte como algo a ser aprendido e o esporte como algo a que se assiste.

Segundo Darido e Rangel (2005, p.185) numa dimensão conceitual o esporte regulamentado pode ser trabalhado da seguinte forma:

Identificar a existência do movimento esportivo como uma ação social institucionalizada que apresenta as suas especificidades, entre elas a de ser regulamentadas pelas federações, confederações, a de possuir uma estrutura hierárquica, organizadas em diferentes modalidades e que possui a sua existência independente da realidade escolar.

Possibilitar uma discussão sobre o que é o esporte, como determinadas modalidades surgiram e através de quais circunstâncias, a elaboração das regras (será que é justa para todos?), a questão dos cargos exercidos e o grande interesse de estar no comando das funções e a interferência do esporte na escola é relevante no esclarecimento de alguns questionamentos que envolvem esta instituição.

Numa dimensão procedimental o esporte como algo a ser aprendido pode ser trabalhado da seguinte forma segundo Darido e Rangel (2005, p. 185):

Encontram-se as diversas estratégias possíveis orientadas à efetivação da prática propriamente dita. Neste momento os alunos deverão ser estimulados a aprender e aprimorar os gestos motores relacionados à modalidade escolhida, bem como as noções básicas sobre as estratégias táticas necessárias à vivência.

Apresentar os fundamentos de determinada modalidade bem como as possibilidades táticas são importantes para a compreensão do aluno sobre o esporte e a aplicação de determinadas regras. Exatamente neste momento que ocorre a questão da seletividade nas aulas de Educação Física, entre os mais e menos aptos. É preciso esclarecer para o aluno que seu gesto motor apresentado desde que não coloque em risco sua integridade física, não é errada, entretanto se considera um gesto que não está dentro dos padrões exigidos do alto nível de determinada modalidade e que são aceitáveis dentro das suas possibilidades e vivências.

Na dimensão atitudinal o esporte como algo que se assiste deve ser argumentado segundo Darido e Rangel (2005, p.187) da seguinte forma:

Qual a sua postura como consumidor dos espetáculos e do universo que envolve a divulgação e veiculação do fenômeno esportivo? Duas linhas podem ser construídas para o trabalho nessa dimensão: uma delas diz respeito ao desvelamento e à interpretação dos valores e intenções da mídia em suas transmissões e a outra se relaciona com a posição que o aluno assume frente às divulgações, se de um mero consumidor passivo ou de um indivíduo que filtra e seleciona as mensagens, construindo, assim, uma postura crítica e ativa em relação ao esporte.

Saber ser e saber conviver com as questões relacionadas ao esporte é fundamental para entender como este fenômeno interfere no dia-a-dia do indivíduo, exemplo a serem citados, são a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, que durante suas realizações muda a rotina dos habitantes de determinados paises ao redor do mundo, e o fanatismo pelos clubes, que mexe com a estrutura emocional de seus torcedores capazes de matarem ou morrerem pela honra do seu time.

 Apresentadas as possibilidades de trabalho com visões diferentes relacionadas ao esporte, fica claro que se limitar somente ao ensino de fundamentos e técnicas do esporte acarretará num grande prejuízo no desvelamento que envolve esta temática dentro do âmbito escolar. Por isso se faz necessário à consciência dos professores de Educação Física da EJA de que a escola não é o local adequado para formação de atletas do esporte (ainda mais nesta modalidade de ensino), e sim, através deste a construir cidadãos críticos capazes de analisarem e questionarem assuntos relacionados ao mesmo. 

Referências Bibliográficas:


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